quinta-feira, 10 de agosto de 2017

MANUEL LARANJEIRA - Vendo a morte

 


MANUEL LARANJEIRA
(Mozelos, Portugal, 1877 - Espinho, 1912)

Médico, poeta e dramaturgo

Com o auxílio financeiro do irmão e da cunhada, Manuel Laranjeira inscreveu-se, já com 18 anos, num liceu portuense. Nesta fase da vida escreveu o primeiro poema, Tenho inveja de Cristo… (1898), e, depois de concluir os estudos liceais, realizou a primeira incursão pela criação dramática com O Filósofo.
Em 1899 ingressou na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, para seguir medicina.

Manuel Laranjeira vivia insatisfeito, escrevia muito - sobre crítica social, artística, literária e política -, e proferia eloquentes conferências.
Em 1908 conheceu Miguel de Unamuno, escritor, poeta e filósofo espanhol, que esteve em sua casa e se tornou um dos seus maiores amigos e assíduos correspondentes (1864-1936). Unamuno escreverá um dia que "foi Laranjeira quem me mostrou a alma trágica de Portugal (…) e não poucos lugares dos abismos tenebrosos da alma humana".

A sua saúde deteriorara-se durante os últimos anos de vida. Vivia doente e isolado e obcecado pelo suicídio, que considerava a forma perfeita de "redenção moral".


in “Universidade do Porto” (excertos)

***

Palavras de Manuel Laranjeira
“Crer...! Em Portugal, a única crença ainda digna de respeito é a crença — na morte libertadora.”
 
 
***
 
 
VENDO A MORTE
 
Em tudo vejo a morte! e, assim, ao ver
que a vida já vem morta cruelmente
logo ao surgir, começo a compreender
como a vida se vive inutilmente...
 
Debalde (como um náufrago que sente,
vendo a morte, mais fúria de viver)
estendo os olhos mais avidamente
e as mãos prà vida... e ponho-me a morrer.
 
A morte! sempre a morte! em tudo a vejo
tudo ma lembra! e invade-me o desejo
de viver toda a vida que perdi...
 
E não me assusta a morte! Só me assusta
ter tido tanta fé na vida injusta
... e não saber sequer pra que a vivi!
 
 
 

 

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