DIOGO BERNARDES
(Ponte
da Barca, Portugal,1520 –Lisboa, 1605)
Poeta
Veio muito novo para
Lisboa. Teve como mestre venerado, nas letras, Sá de Miranda. Moço de câmara de
D.Sebastião (já o era em 1566), acompanhou o monarca na «jornada infelice» de
Alcácer Quibir. Resgatado em 1581, serviu como cavaleiro fidalgo as novas autoridades
palacianas. No fim da vida vieram a lume as colectâneas Várias Rimas ao Bom Jesus, O Lima e Rimas Várias – Flores do Lima.
O século XVII apreciou o
seu lirismo religioso, marcado por um tom de manifesta sinceridade e
experiência, mas o que na sua obra mais vale são as composições bucólicas,
caracterizadas por uma serena e equilibrada melancolia e naturalidade. Lope de
Vega tinha-o por mestre na écloga. É geralmente considerado o maior poeta
bucólico e um dos melhores líricos portugueses do século XVI.
in “O Grande Livro dos Portugueses”
***
ONDE POREI MEUS OLHOS QUE NÃO VEJA
Onde porei meus olhos que não veja
A causa, donde nasce meu tormento?
A que parte irei co pensamento
Que pera descansar parte me seja?
Já sei como s'engana quem deseja,
Em vão amor firme contentamento,
De que, nos gostos seus, que são de vento,
Sempre falta seu bem, seu mal sobeja.
Mas inda, sobre claro desengano,
Assim me traz est'alma sogigada,
Que dele está pendendo o meu desejo;
E vou de dia em dia, de ano em ano,
Após um não sei quê, após um nada,
Que, quanto mais me chego, menos vejo.
in “Antologia Poética”
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