domingo, 7 de junho de 2015

O que Verdadeiramente Mata Portugal

 
 
 
 
 
 
 

Eça de Queirós (Póvoa de Varzim, Portugal, 1845 - Paris, França, 1900). É um dos mais importantes escritores portugueses.

 

Palavras de Eça de Queirós:

Em Portugal a emigração não é, como em toda a parte, a transbordação de uma população que sobra; mas a fuga de uma população que sofre.”

 

O Que Verdadeiramente Mata Portugal

O que verdadeiramente nos mata, o que torna esta conjuntura inquietadora, cheia de angústia, estrelada de luzes negras, quase lutuosa, é a desconfiança.
O povo, simples e bom, não confia nos homens que hoje tão espectaculosamente estão meneando a púrpura de ministros; os ministros não confiam no parlamento, apesar de o trazerem amaciado, acalentado com todas as doces cantigas de empregos, rendosas conezias, pingues sinecuras; os eleitores não confiam nos seus mandatários, porque lhes bradam em vão: «Sede honrados», e vêem-nos apesar disso adormecidos no seio ministerial; os homens da oposição não confiam uns nos outros e vão para o ataque, deitando uns aos outros, combatentes amigos, um turvo olhar de ameaça.
Esta desconfiança perpétua leva à confusão e à indiferença. O estado de expectativa e de demora cansa os espíritos.
Não se pressentem soluções nem resultados definitivos: grandes torneios de palavras, discussões aparatosas e sonoras; o país, vendo os mesmos homens pisarem o solo político, os mesmos ameaços de fisco, a mesma gradativa decadência.
A política, sem actos, sem factos, sem resultados, é estéril e adormecedora. (…)

 

Eça de Queirós, in “Distrito de Évora”.

Imagem: desenho da pintora portuguesa Manuela Pinheiro.

 


1 comentário:

  1. Vou levar comigo
    Este texto é actual e pressinto que o será por muito muito muito mais tempo..
    Maria

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