Boris Pasternak (Moscovo,
Rússia, 1890 -1960).
Poeta
e romancista, foi galardoado com o “Prémio Nobel de Literatura” em 1958, depois
de ter publicado clandestinamente o romance Doutor
Jivago em Itália, em 1957.
Trabalhou
numa fábrica de produtos químicos nos Urais, o que lhe proporcionou obter
matéria para esse romance – uma tragédia sobre o último período da Rússia
czarista e os primeiros dias da União Soviética.
Algumas
das suas obras poéticas: Gémeos nas
Nuvens, Temas e Variações, Minha Irmã, Vida, Quando o Tempo Melhorar.
Palavras de Boris Pasternak:
“Os detentores
do poder ficam tão ansiosos por estabelecer o mito da sua infalibilidade, que
se esforçam ao máximo para ignorar a verdade.”
Verão na Cidade
Conversas a meia voz,
E esse gesto impetuoso
Com que afastas os cabelos
De cima do teu pescoço.
E sob o brilho do pente
É que aparece o olhar,
Debaixo do capacete
Dos cabelos ondulados.
A noite quente, lá fora,
Faz prever um aguaceiro.
Dispersam-se os caminhantes,
Matraqueando os passeios.
Do estrondo da trovoada
Ouve-se rolar o eco.
E o vento faz ondular
As cortinas da janela.
Vem a seguir o silêncio
Mas sufoca-se, e não cessa,
Intermitente, a presença
Dos relâmpagos no céu.
Quando por fim a manhã,
Cintilante, vem secar,
Nas bermas e nas valetas,
A água da tempestade,
Só as tílias seculares,
Cheias de perfume e flor,
Nos olham com o olhar
De quem passou mal a noite.
Tradução: David Mourão-Ferreira
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