domingo, 10 de abril de 2016

ENERGÚMENO VASCO





ENERGÚMENO VASCO


As fúrias de Natália Correia contra Vasco Pulido Valente nunca abrandaram. Tendo ela posto grande empenho na representação dos seus Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente – obra de notável arquitectura cénica sobre as inquietações de Camões no regresso da Índia -, não se conformou com a decisão de Pulido Valente, secretário de Estado da Cultura, ao desfazer a programação do Teatro D. Maria II e todo o trabalho ali em curso. 

Como consequência, foi anulada a encenação daquela obra e dissolvida a companhia que o Nacional criara no Teatro da Trindade.

Em carta enviada a Ana Maria Adão e Silva, Natália golpeia: «Ele (Vasco Pulido Valente) proibiu a representação do texto com as palavras: “Só por cima do meu cadáver.” O energúmeno não gosta de mim!»

Anos mais tarde, o «energúmeno» dir-me-á (a Fernando Dacosta) que «só se arrependia» de não ter «fechado de vez os teatros» em Portugal, tal «a sua atroz indigência».

A obra Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente seria depois encenada, por Carlos Avilez, no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, constituindo um dos grandes acontecimentos culturais da temporada.
O Luís Vaz nela retido é um poeta dilacerado pelos enganos da vida, do amor, da justiça, da Pátria, das crenças acreditadas, tudo a desfazer-se como ele, como o País após Alcácer Quibir.



Fernando Dacosta, in “O Botequim da Liberdade”.

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