ENERGÚMENO
VASCO
As fúrias de Natália Correia
contra Vasco Pulido Valente nunca abrandaram. Tendo ela posto grande empenho na
representação dos seus Erros Meus, Má Fortuna,
Amor Ardente – obra de notável arquitectura cénica sobre as inquietações de
Camões no regresso da Índia -, não se conformou com a decisão de Pulido
Valente, secretário de Estado da Cultura, ao desfazer a programação do Teatro
D. Maria II e todo o trabalho ali em curso.
Como consequência, foi anulada a
encenação daquela obra e dissolvida a companhia que o Nacional criara no Teatro
da Trindade.
Em carta enviada a Ana Maria
Adão e Silva, Natália golpeia: «Ele (Vasco Pulido Valente) proibiu a representação
do texto com as palavras: “Só por cima do meu cadáver.” O energúmeno não gosta de
mim!»
Anos mais tarde, o «energúmeno»
dir-me-á (a Fernando Dacosta) que «só se arrependia» de não ter «fechado de vez
os teatros» em Portugal, tal «a sua atroz indigência».
A obra Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente seria depois encenada, por Carlos
Avilez, no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, constituindo um dos grandes
acontecimentos culturais da temporada.
O Luís Vaz nela retido é um poeta
dilacerado pelos enganos da vida, do amor, da justiça, da Pátria, das crenças acreditadas,
tudo a desfazer-se como ele, como o País após Alcácer Quibir.
Fernando Dacosta, in “O Botequim da Liberdade”.
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