Miklós Radnóti (Budapeste, Hungria, 1909 – 1944).
Foi uma das figuras mais destacadas da
lírica húngara.
Estreou-se com o livro Cumprimento Pagão, em 1930.
Participou na fundação da publicação
vanguardista “Kortárs”.
Traduziu
para húngaro poemas de Arthur Rimbaud, Stéphane Mallarmé, Paul Éluard,
Guillaume Apollinaire e Blaise Cendrars.
Com
a ocupação nazista da Hungria, é enviado, em 1944, para o campo de concentração
de Bor. Durante a Marcha da Morte, através da Hungria, Radnóti foi executado e
enterrado numa vala comum.
Quando o seu corpo foi exumado, ao fim de 18 meses, encontraram no bolso do casaco um bloco de notas com os seus últimos poemas, os quais foram publicados em 1946, com o título: Ceu espumante.
Céu
espumante
No céu
que espuma, a lua oscila.
Estar
vivo me causa espécie.
A
morte assídua espreita a Idade:
quem
ela encontre, empalidece.
O ano
grita e depois desmaia.
(Gritara
olhando ao seu redor.)
Que
outono ronda-me de novo?
Que
inverno embotado de dor?
Sangrava
o bosque; mesmo as horas
sangravam
no vaivém dos dias.
Ventos
riscavam, sobre a neve,
cifras enormes e sombrias.
Já vi
de tudo; o ar me esmaga
com
seu peso; um silêncio cresce
ruidoso,
cálido e me abraça
como
fez antes que eu nascesse.
Detenho-me
junto de um tronco
que
agita iroso as frondes plenas
e
estende um galho. Há-de esganar-me?
Não é
fraqueza ou medo – apenas
cansaço.
Calo. E o galho apalpa
os
meus cabelos, mudo, aflito.
Cabe
esquecer – mas não há nada
de que
já tenha me esquecido.
Espuma
afoga a lua; o miasma
estria
os céus, verde e agressivo.
Sem
pressa, enrolo com cuidado
o meu cigarro. Eu estou vivo.
Tradução:
Nelson Ascher
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