LINHA
DE CASCAES – 1896
Começou
o verão, principiaram nos jornaes as lamentações ou as exigências sobre o
serviço d´esta linha, a menos rendosa e a mais cara em exploração que a
companhia tem.
Uns
querem já comboios às 5 e meia da manhã para ver se conseguem que alguém vá já
principiando os banhos; outros – ou os mesmos – querem que o comboio páre a
todo o momento ou, pelo menos, que páre num determinado ponto para evitar que
dois passageiros por dia que vão tomar banhos n´um estabelecimento que fica a
400 metros d´uma estação, tenham o incommodo de andar esses 400 metros, embora
com isso se incommode e se demore a viagem de 100 ou 200 passageiros que vão
para Cascaes ou d´ali veem.
Pasmoso.
E pasmoso também como se argumenta com as linhas estrangeiras, prova evidente
que, quem com as linhas estrangeiras, prova evidente que, quem tal faz, ou
nunca sahiu de cá, ou lá por fóra não soube ver.
Não há linha mais urbana do que o metropolitano de Londres
que passa sob todas as ruas. Pois em todas ellas teria que parar se por lá
houvesse declamadores como os nossos.
A linha de Cintura de Paris, a de Versailles, e de Saint
Clou, teem apeadeiros, mas nunca a uma distancia inferior a 1 Kilometro.
Ora de S João do Estoril à estação do Estoril ha apenas
1.148 metros.
Os banhos da Póça ficam entre estas duas estações logo, a
meio que ficassem, a maior distancia seria 574 metros, isto é, o que se anda em
5 ou 6 minutos, mas nem isso é, porque, segundo informação que buscámos na
própria empresa, são 400 metros desde Estoril.
Para quê, pois fazer parar o comboio? Para dar importancia
ao estabelecimento? Crêmos que para reclame
gratuito é forte.
E depois, note-se, quem não tem que andar 400 metros ou mais
para ir da estação ao ponto de destino ou vice-versa?
Qualquer casa nas ruas de Paço d´Arcos não fica a menos a
menos de 400 metros da estação; em Pedrouços, Cruz Quebrada, Oeiras, Estoril,
Cascaes, succede o mesmo.
Um jornal lembrou, com
toda a razão, que a solução, n´estes casos, é estabelecer um serviço de omnibus
entre a estação do caminho de ferro e o local dos banhos.
O simples bom senso
mostra que era o melhor.
Depois, estabelecendo-se
ali um apeadeiro a companhia não podia deixar de cobrar pela estação seguinte –
nada lucrava o passageiro do lado de Lisboa e o do lado de Cascaes pagaria 80
réis em 1ª classe, 60 réis em 2ª e 40 réis em 3ª.
Ora, indo os passageiros
ao Estoril pagam metade d´estes preços, logo a differença dá bem para o carro,
tendo a vantagem d´este ir leval-os e buscal-os à porta do estabelecimento.
Compara-se o sonhado
apeadeiro da Póça com o de Barcarena! Só por gracejo!
Este fica a 2k, 200 de
distancia da estação mais próxima, serve uma fabrica de pólvora pertencente ao
Estado e é reputado de tal forma de utilidade publica que o ministério da
guerra pagou a sua construção.
A Póça fica apenas a 400
metros do Estoril!
Que se contente com o reclame que lhe fizemos.
A companhia nega-se a
estabelecer ali o apeadeiro, não pelos pequenos gastos de construção, mas
principalmente pelo interesse do publico, que não veria com agrado que o
demorassem na sua viagem para se satisfazer a um puro capricho dos pocistas.
O novo serviço de
Cascaes vae começar brevemente. A companhia esforça-se por fazer comboios a
contento do publico, sem olhar a interesses nem a augmento de gastos.
Pois apostamos em como
toda a gente protestará.
Fonte: Gazeta dos
Caminhos de Ferro Nº 1166 - 16 de Julho de 1896.
Imagem: primeiro comboio
que circulou na linha do Estoril.
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