CHICO
DO CACHENÉ
A Adega Machado, na Rua do
Norte, nº 91, em Lisboa, foi no início uma casa atabernada, aberta em 1939 por
Armando Machado, violista do Solar da Alegria, com a ajuda do empresário Abel
Fernandes e de Filipe Nogueira.
Chamou-se então Barrete Verde e viria a
prosperar, tal como a Adega Mesquita, graças ao contributo da mulher do
proprietário, a cantadeira e excelente cozinheira Maria de Lurdes.
Na Adega
Machado existiu durante algum tempo um boneco feito por D. Tomás de Melo (Tom)
– o Chico do Cachené -, que certo dia, acusado de viver à custa duma mulher, foi “julgado”
por iniciativa de um grupo de frequentadores da casa.
A paródia, pretexto para
uma opípara ceata, culminou com a absolvição do “réu”, que Linhares Barbosa,
“juiz” da causa, declarou inocente, por se ter provado que era bom rapaz e …
trabalhador!...
Essa figura mítica do Chico
do Cachené inspirou ainda a seguinte cantiga, com letra de António Vilar da
Costa e música de Nóbrega e Sousa:
De
chapéu às três pancadas
E
cachené ao pescoço,
O Chico
nas ramboiadas
Punha o bairro em alvoroço.
A
mocidade, levou-a
O tempo
ingrato consigo;
E o
fado, que é seu castigo,
Todas
as noites entoa
Naquele
velho postigo
Donde namora Lisboa.
Ai
Chico, Chico, do cachené,
Quem te viu antes e quem te vê!
Em
tosca mesa de pinho
Tem
sardinheiras num jarro,
Uma
botija com vinho
E um Sant´António de barro.
Junto
de velho cachené
E dos
calções à Marialva
Guarda
o leque cor de malva
Da
cigana Salomé
Por
quem o Chico, na Agualva,
Numa tasca armou banzé.
Na parede,
entre dois pares
De
bandarilhas vermelhas,
A
jaqueta d´alamares
E o chicote das parelhas.
Lá tem
a cinta e o barrete
Que
ornamentavam, mesmo à entrada,
A
cabeça embalsamada
Do
famoso Ramalhete,
Que lhe
deu luta danada
Numa pega em Alcochete.
Quando
a saudade o visita
E há
mais sol na sua vida,
Tira
dum saco de chita
Uma guitarra partida.
Depois
dum copo de vinho
Seus
olhos são toutinegras.
Ai!
Tornam-se negras, negras,
As
melenas cor de arminho
E ali,
com todas as regras,
Chorando, canta baixinho.
Ai
Chico, Chico, do cachené
Quem te viu antes e quem te vê!
Fonte: Lisboa, o Fado e os Fadistas - Eduardo Sucena
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